BABY DO BRASIL PEDE PARA VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL PERDOAREM AGRESSORES DURANTE CULTO EM BALADA

A cantora e pastora Baby do Brasil pediu durante culto evangélico que vítimas de abuso sexual perdoassem os seus agressores, inclusive da mesma família. O evento aconteceu na D-Edge, na Barra Funda, uma das casas de música eletrônica mais tradicionais de São Paulo, na segunda-feira (10).

“Perdoa tudo o que tiver no seu coração nesse lugar, perdoa. Se teve abuso sexual, perdoa. Se foi na família, perdoa. Se é briga de família, mãe, filho, pai, perdoa”, afirmou a artista ao fazer uma oração.

O g1 acompanhou de perto o chamado “culto profético”, que reuniu mais de 150 pessoas, entre fiéis já familiarizados e curiosos atraídos pela proposta. O evento durou cerca de três horas.

A fala foi alvo de muitas críticas nas redes sociais nesta quarta-feira (12). Internautas acusaram a fala de incentivar o silêncio das vítimas e a impunidade dos abusadores.

“Denuncie para a polícia, independente de ser da família ao não, denuncie”, escreveu uma pessoa. “Como que esse tipo de gente tem espaço? Uma mulher falando isso abertamente e com, inclusive, outras mulheres na plateia apoiando o discurso? Isso que é fim dos tempos”, questionou outra.

Responsável pela organização do culto, o DJ e dono da boate, Renato Ratier, classificou a fala da Baby do Brasil como “infeliz”. O combinado com a cantora é que ela participaria somente do louvor com o pocket show de rock, e não da pregação.

“Acho que ela foi infeliz. Não tinha nada que falar o que ela falou. Eu conheço a Baby, sou amigo dela. Não que a Baby ache que a pessoa não tem que pagar por isso, que não tem que denunciar. A pessoa tem que denunciar […] O que eu acho que ela quis dizer é para a pessoa não guardar um trauma nela, para ela perdoar, aliviar esse trauma. Mas não que a justiça não tem que ser feita”, explicou Ratier ao g1.

“Eu acho que é uma coisa muito séria e muito individual esse assunto. Falar sobre isso, sobre uma dor. É uma dor que eu nunca tive. Então, como é que eu vou falar sobre a dor do outro? A posição do Renato Ratier e do D-Edge é que um abuso sexual tem que ser denunciado, e a justiça tem que ser feita. A pessoa tem que pagar criminalmente por isso”, complementou.

Durante o culto, Ratier falou sobre a possibilidade de realizar o culto mensalmente na D-Edge — ideia recebida com entusiamo pelo público. Contudo, após a repercussão da fala, ele desistiu do plano.

“Se um dia eu quiser fazer algum culto, eu acho que eu vou procurar outro espaço para não gerar esse tipo de polêmica. Eu fiz de coração aberto, sem essa intenção”, afirmou.

O culto
A emblemática “caixa preta” de 800 metros quadrados, iluminada por LEDs e conhecida por receber alguns dos maiores DJs do mundo, viveu uma noite diferente na segunda-feira (10). A D-Edge trocou o techno pelos louvores ao receber um culto evangélico.

O ambiente de balada na Zona Oeste permaneceu quase inalterado: o bar continuava no mesmo lugar, os sofás onde os frequentadores costumam descansar ainda estavam lá, as luzes vibrantes seguiam piscando e até a cabine do DJ permaneceu montada. Mas, desta vez, fileiras de cadeiras foram adicionadas para acomodar um público bem distinto do habitual.

A segunda-feira, que nos anos 2010 era marcada pelo rock indie na casa, deu lugar ao evento “Frequência de Deus”, idealizado pelo DJ e proprietário da boate, Renato Ratier, com a participação da cantora Baby do Brasil e dos pastores Pedro e Samuel Santana, que são pai e filho.

‘Noitada de fé’
A tradicional pista da D-Edge foi transformada em um auditório improvisado, com dezenas de cadeiras voltadas para um palco onde Baby do Brasil – pastora pentecostal e ex-vocalista dos Novos Baianos – conduziu a parte musical do culto. Durante toda a cerimônia, funcionários registravam o evento com fotos e vídeos.

O público era formado, em sua maioria, por pessoas brancas entre 30 e 40 anos, vestindo desde trajes casuais, como camisetas e tênis, até roupas mais sofisticadas, como saltos altos e camisas sociais. Muitos dos fiéis fugiam do estereótipo atribuído a evangélicos, exibindo tatuagens e roupas mais ousadas, como saias com fendas e blusas decotadas.

 

 

G1*

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