Depois de percorrer mais de 670 quilômetros, Elizandra Henrique da Costa voltou neste domingo (10) ao seu lar, no povoado de Ererê, em Monte Alegre (PA). A jornada começou ainda durante a gravidez, quando ela e o marido, Marcos Oliveira, descobriram que as filhas eram siamesas, unidas pelo tórax e abdômen — condição que exigia atendimento médico especializado.
A gestante deixou a pequena comunidade ribeirinha e passou quatro dias viajando de barco até Manaus (AM). Na capital amazonense, foi acolhida na Maternidade Ana Braga, referência em partos de alto risco pelo SUS. Ao seu lado, esteve a mãe, Eliana Henrique Clemente, que acompanhou toda a luta pela sobrevivência das netas.
— Seguimos firmes, com fé em Deus de que ia dar tudo certo — relembrou Elizandra.
Do parto à cirurgia
No dia 9 de abril de 2025, nasceram Eliza Vitória e Yasmin Vitória, por cesariana inédita na unidade hospitalar. Pouco mais de duas semanas depois, a família seguiu em UTI aérea para Goiânia, onde as meninas seriam acompanhadas no Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (HECAD), especializado na separação de siameses.
Os médicos planejavam aguardar cerca de seis meses antes da operação, mas o quadro de Eliza se agravou: a bebê apresentou dificuldades respiratórias e quase deixou de urinar. A equipe, liderada pelo cirurgião pediátrico Zacharias Calil, decidiu antecipar o procedimento para 13 de maio.
A cirurgia, que durou seis horas e envolveu 20 profissionais, separou fígado, pericárdio e parte da cavidade cardíaca compartilhados pelas irmãs, além da estrutura óssea do tórax. A intervenção foi bem-sucedida. Enquanto Eliza teve rápida recuperação, Yasmin enfrentou complicações, incluindo um problema cardíaco.
Recuperação e retorno para casa
As gêmeas permaneceram na UTI por dois meses. Mãe e avó se revezavam ao lado dos berços, enfrentando dias e noites no hospital. No dia 9 de agosto, no “mêsversário” de quatro meses das meninas, veio a alta hospitalar, celebrada por profissionais de saúde com bolo, balões e presentes.
Yasmin seguirá em tratamento, necessitando de medicamentos para o coração hipertrofiado. Já em Manaus, Marcos reencontrou a esposa e, pela primeira vez, pôde segurar as filhas separadas — encontro que coincidiu com o Dia dos Pais.
Melhor presente que um pai poderia receber. É muita felicidade! — disse emocionado.