Um artigo divulgado recentemente pela revista científica Immunity mostra que o jejum pode ajudar mecanismos de defesa do corpo humano a combater células cancerígenas. Na pesquisa, ratos foram expostos a uma rotina de 48 horas de jejum, diluídas em um período de uma semana. Com a restrição alimentar, o organismo potencializou a ação de um grupo específico de células de defesa responsáveis pelo combate ao câncer.
O oncologista Rodrigo Guimarães explica que são positivos os benefícios do jejum, mas alerta que a prática deve ser feita com acompanhamento médico e nutricional.
“Já era sabido há algum tempo que o organismo consegue eliminar mais células defeituosas, células tumorais, em um período de jejum. Isso, inclusive, até foi um médico que ganhou o Prêmio Nobel, nos anos 1950, porque ele comprovou que as células tumorais têm como principal fonte de energia a glicose. Então, quando a pessoa está em jejum, ela está utilizando mais a gordura como fonte de energia, pouco a glicose, e, com isso, as células tumorais seriam mais expostas durante esse período de jejum”, detalha.
De acordo com o médico, é um desafio de trazer esse método de tratamento para a realidade dos pacientes com câncer, muitas vezes já debilitados por causa do tratamento. “Tem que tomar muito cuidado quando se vai utilizar uma ferramenta nutricional para tratamento de qualquer doença. É importante ter um acompanhamento de nutricionista ou médico para saber qual que é a melhor intervenção para aquela pessoa, em particular. Para algumas pessoas que estão em tratamento oncológico, elas já estão debilitadas. Aí, se for feito um jejum prolongado, corre o risco dessa pessoa desnutrir, o que é ruim”, alerta.
Para alguns tipos de câncer, o jejum pode ser mais eficiente. “Tumores do cérebro são mais sensíveis a essa redução dos níveis de glicose. Então, quando a pessoa fica em jejum, ficaria com maior chance de eliminar as células tumorais. Mas tem que ter cuidado, novamente, porque tem que ver como está aquela pessoa naquele momento, se ela pode realmente fazer jejum. Para outros tipos de câncer, também tem sido estudado o jejum como ferramenta interessante: câncer de mama, câncer de intestino e até mesmo câncer de pâncreas”, destaca.
Os resultados do estudo são consequências de experiências feitas em laboratórios com camundongos. A dificuldade de replicar o processo em humanos é grande, devido à dificuldade de monitoramento e precisão das atividades relacionadas. “É mais difícil por conta da adesão, porque, quando está em laboratório com cobaias, é fácil controlar o período de alimentação, é só não dar comida para as cobaias, para os ratos. Agora, para o ser humano, é mais difícil falar com uma pessoa, ficar um dia sem alimentar, é necessário que essa pessoa esteja muito motivada a fazer isso e tenha condições de fazê-lo. Mas é algo que já está sendo estudado em alguns locais do mundo, desse tipo de abordagem em concomitância ao tratamento do câncer”, conclui o oncologista Rodrigo Guimarães.