O Vaticano realizou a Missa de Exéquias na manhã deste sábado, 26, depois de três dias de velório aberto para homenagens de fiéis. O rito marca o início do período de nove dias de luto e orações em honra ao pontífice, conhecido como Novendiali. Segundo a Santa Sé, mais de 200 mil pessoas, além de dezenas de chefes de Estado, estavam presentes.
A missa foi celebrada na Praça de São Pedro e, no fim, os fiéis acompanharam os ritos solenes da Última Commendatio e da Valedictio, que simbolizaram a conclusão das exéquias. O caixão de madeira e zinco foi colocado em frente ao altar. O funeral foi presidido pelo cardeal decano Giovanni Battista Re, ao lado de 980 cardeais, bispos e padres.
“Essa multidão diversificada representa a Igreja de Francisco, aquela que acolhe ‘todos, todos, todos’, como ele repetia incansavelmente”, afirmou o Vaticano, em nota.
Após o rito religioso, o caixão foi levado em um jipe branco para a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma, onde acontecerá a cerimônia de sepultamento. O cortejo fúnebre percorrerá 4 quilômetros pelas ruas da cidade.
O sepultamento encerrará o pontificado de 12 anos do primeiro papa latino-americano, que defendeu os migrantes, o meio ambiente e a justiça social. “Ele não foi apenas o papa, foi a definição do que é ser humano”, afirmou Andrea Ugalde, de 39 anos, vinda de Los Angeles. “Mudou a Igreja, defendeu os doentes, os sem-teto, os pobres e até os animais”, acrescentou.
Fiéis rezaram durante o funeral do papa Francisco próximo à Praça de São PedroJEFF PACHOUD / AFP
“Ver tantas pessoas aqui mostra quantas vidas o papa Francisco tocou”, disse Jean-Roger Mounguengui, de 64 anos, do Gabão, que compareceu com a esposa.
O público presente na Praça de São Pedro aplaudiu e entoou cânticos ao ver o caixão deixar a Basílica. Pouco antes, os sinos tocaram em homenagem aos mortos. Além do fervor popular, a cerimônia contou com a presença de dezenas de chefes de Estado e de governo, entre eles o presidente Lula. O chefe de Estado americano, Donald Trump, também compareceu com a esposa Melania e permaneceu em oração diante do caixão, assim que chegou ao funeral.
Durante a homilia, o cardeal decano Giovanni Battista Re destacou que Francisco elevou incessantemente a voz, implorando pela paz e convidando à razão e à negociação para encontrar possíveis soluções para as guerras. “A guerra sempre deixa o mundo pior do que estava antes: é uma derrota dolorosa e trágica para todos”, continuou diante das autoridades internacionais.
Na Argentina, missas e vigílias foram organizadas em sua homenagem, apesar da diferença de fuso horário. Em frente à Catedral de Buenos Aires, na Praça de Maio, cerca de cem jovens se reuniram com velas e cânticos durante a madrugada.
“O evento é uma forma de transformar a tristeza pela sua morte em um farol de esperança”, afirmou Iara Amado, assistente social de 25 anos. O local de descanso final do papa ficará a 11 mil km da cidade natal, Flores.
Missas e vigílias foram organizadas para homenagear papa Francisco, apesar da diferença de fuso horárioLUIS ROBAYO / AFP
‘Um pastor simples’
Eleito em 13 de março de 2013, Jorge Mario Bergoglio foi o primeiro pontífice a adotar o nome Francisco, em homenagem ao santo dos pobres. Conhecido pelo estilo austero e próximo do povo, preferiu viver em um apartamento simples em vez do Palácio Apostólico e costumava convidar moradores de rua e presos para refeições.
Como símbolo de seu legado, grupos de pessoas pobres, presos, migrantes e pessoas trans receberão seu caixão com uma rosa branca na chegada à Basílica de Santa Maria Maior. “Era um pastor simples, muito querido em sua arquidiocese, que viajava até de metrô ou ônibus para estar entre o povo”, registra no obituário oficial.
Francisco foi sepultado em um caixão de madeira selado com zinco, levando consigo seus sapatos pretos e seu inseparável rosário.
A luta contra a pedofilia na Igreja, a defesa de um papel maior para mulheres e leigos, e sua agenda de reformas marcaram seu papado, frequentemente enfrentando resistência de setores conservadores.
Com a morte de Francisco, a Igreja se prepara agora para escolher seu sucessor. O conclave deve ser convocado entre 15 e 20 dias após sua morte, embora possa ocorrer antes, em data ainda indefinida.
* Com informações da AFP