MULHER FAZ BARIÁTRICA SEM SABER QUE ESTAVA GRÁVIDA E BEBÊ NASCE COM SEQUELAS GRAVES

A curitibana Patrícia Anny Baptista decidiu fazer uma cirurgia bariátrica após enfrentar dificuldades para engravidar e lidar com obesidade grau II, gordura no fígado, hipertensão e dores constantes nas pernas. Com indicação médica, ela entrou na fila do SUS e fez o procedimento em maio de 2017. O que Patrícia não sabia é que já estava grávida de três meses quando foi operada.

“Na hora eu surtei”, contou à revista Marie Claire. O diagnóstico veio um mês depois da cirurgia, quando ela foi levada ao hospital após desmaiar de fraqueza. Desde então, viveu uma gravidez extremamente delicada, marcada por desnutrição e risco constante para o bebê.

Desnutrição durante a gravidez

Patrícia não conseguia se alimentar. Vomitava até água e perdeu 30 quilos durante a gestação. “Os médicos só falavam pra eu tentar comer, pra fazer uma forcinha. Mas eu não conseguia”, relatou. Mesmo com a dificuldade alimentar, nenhum protocolo alternativo foi oferecido, como nutrição parenteral, que poderia ter amenizado os danos ao bebê.

Camila nasceu com apenas 540 gramas e 28 centímetros, aos sete meses de gestação. “Ela nasceu sem vida, mas quando a enfermeira a pegou no colo, ela voltou sem ser reanimada”, lembrou a mãe. A menina foi entubada e passou seis meses internada na UTI neonatal, enfrentando hemorragias, infecções graves e complicações intestinais.

Sequelas para a filha – e para a mãe

Hoje, Camila tem 8 anos, mas vive com sequelas motoras, cognitivas e respiratórias. Precisa de acompanhamento médico com oito especialistas e faz cinco tipos de terapias. Até os dois anos, usou oxigênio suplementar, e atualmente pesa apenas 14 quilos. Além disso, possui uma condição autoimune na tireoide que impacta diretamente seu crescimento.

Patrícia também precisou de cuidados. Desenvolveu transtorno de estresse pós-traumático e segue em tratamento com medicação controlada. “Eu não queria dinheiro pra mim. Queria pagar uma fono ou uma fisioterapeuta particular pra minha filha”, desabafou. Hoje, a família arca com plano de saúde e aguarda vagas na rede pública para terapias e consultas especializadas.

Falta de protocolo e falha de comunicação

A cirurgia bariátrica, segundo Patrícia, foi um sucesso no que diz respeito à perda de peso. Ela conseguiu se reestabelecer após o nascimento da filha e não teve reganho. O problema, segundo ela, foi a negligência no pré-operatório.

O cirurgião bariátrico Tiago Szegö explica que não há exigência legal para repetir o teste de gravidez antes da cirurgia. “No SUS, em que o tempo de espera pode ser longo, talvez não haja logística para repetir o exame próximo da cirurgia”, pontuou.

Szegö reforça que a recomendação é evitar a gravidez nos primeiros 12 a 18 meses após a bariátrica, devido à perda de peso intensa e riscos de desnutrição. Mas lembra que falhas de comunicação entre médicos e pacientes são frequentes. “Pesquisas mostram que mesmo pacientes instruídos captam só 40% do que o médico fala”, afirmou.

Processo na Justiça

A família decidiu processar o hospital por negligência, alegando que o beta hCG não foi repetido antes da cirurgia. O processo se estendeu por cinco anos, mas teve decisão favorável à instituição. “Se tivessem pedido um beta hCG um dia antes da cirurgia, nada disso teria acontecido. Foi falta de zelo”, disse Patrícia, com mágoa.

Resumo:
Patrícia Anny Baptista fez uma cirurgia bariátrica sem saber que estava grávida. Desnutrida durante toda a gestação, perdeu 30 quilos e teve uma filha prematura, que hoje vive com sequelas graves. A mãe entrou na Justiça, mas o hospital venceu o processo. O caso acende um alerta para falhas em protocolos e comunicação na saúde pública.

 

 

Revista Ana Maria

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