A polícia da Índia abriu uma investigação por homicídio culposo após a morte de pelo menos 14 crianças, no estado de Madhya Pradesh, que tomaram um xarope para tosse contaminado com uma substância tóxica.
Segundo a agência de notícias Reuters, as vítimas, a maioria com menos de cinco anos, morreram de insuficiência renal depois de consumir o xarope Coldrif, fabricado pela empresa Sresan Pharma, sediada no estado de Tamil Nadu.
Exames revelaram que o medicamento continha dietilenoglicol, uma substância tóxica usada em anticongelantes, cosméticos e lubrificantes, em níveis quase 500 vezes superiores ao limite permitido.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), a ingestão dessa substância pode causar vômitos, dores abdominais e lesões renais agudas, que podem levar até mesmo à morte.
Testes feitos por autoridades de Tamil Nadu e Madhya Pradesh detectaram, respectivamente, 48,6% e 46,28% de dietilenoglicol no xarope. O limite permitido é de apenas 0,1%, segundo o jornal indiano The Hindu.
Médico e fabricante investigados
Segundo o The Hindu, um pediatra, identificado como Praveen Soni, que teria prescrito o xarope em um hospital público e em uma clínica particular, foi preso e suspenso das funções. Ele é acusado de negligência médica.
Já a empresa Sresan Pharma, responsável pela produção do Coldrif, também é investigada e teve a licença de fabricação suspensa. A fabricante não se pronunciou sobre o caso, de acordo com a imprensa local.
A polícia criou uma força-tarefa especial para investigar o caso. O superintendente de polícia Ajay Pandey afirmou ao jornal que equipes viajarão a Tamil Nadu e outros locais relacionados à empresa para reunir provas.
Ainda de acordo com o The Hindu, o governo de Madhya Pradesh distribuiu indenizações de 400 mil rúpias indianas (cerca de R$ 25 mil) às famílias das vítimas. Outras oito crianças continuam internadas em um hospital de Nagpur, cidade vizinha.
Substância já causou mortes em outros países
Toxinas como dietilenoglicol e etilenoglicol já foram encontradas em outros xaropes para tosse fabricados na Índia, que mataram ao menos 141 crianças na Gâmbia, Uzbequistão e Camarões desde 2022. Outras 12 crianças indianas morreram em 2019, segundo a Reuters.
A Índia é o terceiro maior produtor de medicamentos do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. O país fornece 40% dos remédios genéricos usados nos EUA e 25% dos consumidos no Reino Unido, segundo dados oficiais.
Após as mortes no exterior, o governo indiano passou a exigir testes laboratoriais para xaropes exportados, mas a mesma regra não vale para produtos vendidos dentro do país, como o Coldrif.
‘Riscos significativos’
O Ministério da Saúde da Índia afirmou em nota que “os medicamentos para tosse têm benefícios comprovados mínimos em crianças, mas apresentam riscos significativos”, segundo a Reuters.
De acordo com a denúncia policial citada pela agência, a fabricante do xarope pode responder por homicídio culposo, adulteração de medicamentos e violação da Lei de Medicamentos e Cosméticos. As penas variam de multas pesadas à prisão perpétua.
Fonte: R7