O ex-governador do Amazonas José Melo afirmou que a articulação para reprovar as contas de 2017 do então governador interino e atual prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), e tornar os dois inelegíveis carrega um claro ‘componente político‘. Em declaração recente, Melo contextualizou o episódio como parte de um movimento ligado às disputas de poder no Estado e às projeções para as eleições de 2026, ainda que David negue ser pré-candidato ao governo.
“Ninguém é criança aqui. Tem um componente político nessa história”, disse Melo ao portal Redação Amazônia. Segundo ele, a discussão sobre as contas não pode ser dissociada das ambições naturais de lideranças que ocupam cargos estratégicos. “As pretensões naturais, normais, do David querer ser governador do Estado. Todo político sonha com isso. Quem disser que não sonha, tá enganando”, afirmou.
A fala do ex-governador ocorre após a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) decidir, por unanimidade, reprovar as contas do exercício de 2017, período em que David Almeida comandou o governo de forma interina por cerca de três meses. A decisão contraria o parecer técnico do Tribunal de Contas do Amazonas (TCE-AM), que havia aprovado as contas.
“Qual foi o crime em quatro meses?”, questiona Melo
Ao comentar o episódio, José Melo que também pode ser penalizado com inelegibilidade, buscou delimitar sua própria responsabilidade naquele ano. Cassado em 2017 após decisão judicial que anulou o mandato conquistado nas eleições de 2014 por compra de votos, ele ressaltou que permaneceu no cargo apenas até a cassação e que sua relação com o período analisado é limitada. “Não para mim, porque eu tenho quatro meses só de gestão em 2017. Qual foi o crime que eu cometi em quatro meses?”, questionou.
Após a saída de Melo, o comando do Estado passou a David Almeida, então presidente da Aleam, que assumiu interinamente até a realização de uma nova eleição, em agosto daquele ano. O pleito definiu Amazonino Mendes como governador até o fim do mandato, em 2018.
Decisão da CAE pode gerar inelegibilidade
A reprovação das contas de 2017 foi aprovada na CAE pelos deputados Alessandra Campelo, Felipe Souza, Rozenha e Wilker Barreto, este último relator do parecer. Caso a decisão seja confirmada pelo plenário da Aleam, David Almeida pode se tornar inelegível por até oito anos, conforme prevê a legislação eleitoral para gestores que têm contas rejeitadas por irregularidades insanáveis.
Esse possível efeito político-eleitoral é justamente o ponto que, na avaliação de José Melo, reforça a leitura de que a discussão extrapola o campo técnico. Para ele, o tema ganhou peso estratégico à medida que o nome de David Almeida passou a ser citado como potencial candidato ao Governo do Amazonas em 2026, ainda que o prefeito negue publicamente qualquer intenção de disputar o cargo.
Divergência entre Aleam e TCE-AM
Um dos aspectos centrais do caso é o conflito entre o parecer técnico do TCE-AM e a decisão política da CAE. O Tribunal de Contas aprovou as contas de 2017, mas a comissão da Aleam optou pela reprovação, o que reacendeu o debate sobre os limites entre a análise técnica e a avaliação política exercida pelo Legislativo.
No rito previsto, após o parecer da CAE, o colegiado deve elaborar um relatório conclusivo antes de encaminhar o processo para votação em plenário. A palavra final caberá aos deputados estaduais, conforme estabelece o regimento interno da Casa.
Próximos passos e impacto no cenário político
A expectativa é de que o tema volte à pauta da Assembleia Legislativa do Amazonas com a retomada dos trabalhos legislativos em 2026. Até lá, o processo deve seguir em tramitação interna, com articulações políticas nos bastidores e atenção redobrada dos grupos interessados no desfecho.
Para José Melo, o caso ilustra como decisões administrativas podem se transformar em instrumentos de disputa política.
“Eu tenho a plena confiança que o deputado Roberto Cidade e todos os outros deputados que estão lá vão ter um equilíbrio suficiente para entender que não é assim que se faz as coisas”, afirmou.
Fonte: AM POST.
