Uma nova necropsia realizada no Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro trouxe detalhes dramáticos sobre os momentos finais vividos por Juliana Marins, publicitária brasileira que morreu em junho após sofrer duas quedas em uma trilha na ilha de Lombok, na Indonésia.
Segundo os médicos legistas responsáveis pelo novo exame, Juliana pode ter sobrevivido por até 32 horas após a primeira queda, ocorrida por volta das 4h do dia 21 (horário local). O óbito, no entanto, teria acontecido minutos após uma segunda queda, quando já se encontrava em condição crítica. O corpo foi encontrado a cerca de 600 metros abaixo da trilha.
“Foi uma morte agônica, hemorrágica, sofrida”, afirmou o perito Nelson Massini, durante coletiva realizada na sede da Defensoria Pública da União, no Rio.
Quedas em sequência e tentativa de sobrevivência
De acordo com o parecer técnico, Juliana caiu inicialmente de uma altura estimada de 220 metros, escorregando por cerca de 60 metros em um paredão rochoso. As saliências do terreno teriam amortecido parte da descida, mas causaram lesões severas, como fraturas nas costelas, no fêmur e na bacia.
A segunda queda, cerca de 60 metros mais abaixo, foi considerada fatal, causando traumas múltiplos — inclusive uma perfuração pulmonar, laceração hepática e trauma craniano. Uma terceira queda arrastou o corpo ainda mais, dificultando o resgate.
Apesar das graves lesões, Juliana ainda estava viva por várias horas. Um grupo de turistas espanhóis registrou imagens com drones no fim da tarde do dia 21 mostrando que ela estava consciente e vestia um agasalho que não aparecia em vídeos anteriores — sinal de que ela tentou se proteger do frio.
Os legistas utilizaram técnicas da entomologia forense — ciência que estuda insetos em contextos criminais — para confirmar o momento provável da morte. Com base no desenvolvimento de larvas encontradas no couro cabeludo, os especialistas estimaram que Juliana faleceu por volta do meio-dia do dia 22.
“Ao que tudo indica, ela resistiu por quase um dia e meio”, disse o médico legista Reginaldo Franklin Pereira.
A família critica a lentidão no socorro. A equipe local de primeiros socorros teria chegado ao local dez horas após a queda, mas não conseguiu alcançar Juliana. A Defesa Civil da Indonésia (Basarnas) chegou 18 horas depois do acidente, mas não tinha equipamentos suficientes para descer os 600 metros de profundidade necessários.
“O grupo de resgate mais próximo não estava capacitado para esse tipo de missão. Se houvesse um time com preparo adequado desde o início, talvez ela estivesse viva hoje”, desabafou Mariana Marins, irmã da vítima.
Por enquanto, a família ainda não decidiu se irá entrar com uma ação judicial por negligência. Segundo a defensora pública federal Taísa Bittencourt, um eventual inquérito criminal depende de autorização do ministro da Justiça, uma vez que o caso ocorreu fora do Brasil.
“O retorno da Polícia Federal foi claro: esse tipo de apuração só acontece mediante provocação formal ao Ministério da Justiça”, explicou.
*Fonte: Portal Tucumã